fotografia de paul octavious
tenho pensado bastante no significado desta palavra e no peso que tem. o primeiro resultado que aparece quando introduzimos a palavra no google é: “Simplicidade ou frugalidade é a ausência de artifícios, extravagâncias e excessos de ordem material, social ou psicológica” * a primeira imagem é uma mão e uma flor pequenina *.
A definição ou o grafismo da simplicidade serão pouco importantes na medida em que a minha maior dúvida é se serei na minha essência uma pessoa simples. e a questão coloca-se na medida em que gostava realmente de o ser.
pergunto-me se vibrar com um par de sapatos é incompatível com sentir uma felicidade suprema por ter esta vista quando olho pela janela. se sonhar com a casa x ou y se sobreporá à casa z, se a última for mais perto dos que mais gosto. se gostar tanto de caramelos invalida gostar de sushi. se gostar de ver mulheres bem vestidas significa que gostava de ser uma delas, acima de tudo.
depois lembro-me dos últimos dias. a visita à h&m com a catarina que ia comprar umas calças (e eu também). chegámos e não as encontrámos (não havia o número), quando ela ia experimentar as alternativas vimos o que já não esperávamos encontrar (ela queria e precisava mesmo das calças). lembro-me do sorriso dela e fiquei tão feliz que me esqueci completamente que também ia comprar umas para mim. lembrou-se a catarina quando já tínhamos saído e foi engraçado. a minha vontade de ter as calças era pouco face ao sorriso simples da minha amiga, ou ter-me-ia lembrado. depois também fui ajudá-la a escolher uns sapatos, e ver a alegria dela (e falo de roupa/sapatos necessários pelas circunstâncias de estarmos a iniciar a vida profissional) seria sempre mais do que ter comprado uns sapatos para mim.
tenho questionado se faz tanto sentido gostar tanto de algumas coisas. roupa é roupa e a roupa gasta-se. mas vou sempre ficar mais feliz se der uma vista de olhos à elle (uk). tirar ideias, imaginar-me com roupa que nunca vou ter (e não há nenhum pesar nesta afirmação, muito pelo contrário) e talvez seja esse o encanto.
às vezes, inquieta-me que gostar de coisas possa comprometer a simplicidade em que gostava que a minha vida se completasse. mas haverá algum problema, se a questão for só gostar? ou ficar feliz por ter algumas delas (sendo a felicidade - no sentido mais lato possível - uma consequência e nunca uma condição)?
não sei… gostava realmente que quando as pessoas (que gosto e cuja opinião é importante) se tivessem de me descrever lhes surgisse a simplicidade como uma característica minha. se calhar (e por um conjunto de circunstâncias que não vale a pena explorar) coloco demasiado peso e até alguma culpa por gostar de coisas ditas superficiais, como se me retirasse algum conteúdo e fosse contraditório e incongruente com outras coisas em mim.e isto é uma discussão que tenho de ter comigo.
mas, será a simplicidade uma questão de ausência de coisas ou uma forma de as ver, de ver o mundo?
3 comentários:
voto no conceito de simplicidade entendido como sendo uma forma de sermos felizes independentemente desses circunstancialismos de que, apesar de tudo, gostamos. as calças eram essenciais? não, tal como não o são os sapatos (ainda que não os largue).. não somos mais genuinos quando despojados dessas superficialidades, mas quando elas não alteram a nossa essência (e a minha também não é propriamente "descomplicada") =)
John Dewey refere em 'Experience & Education' o seguinte:"Mankind likes to think in terms of extreme opposites. It is given to formulating its beliefs in terms of Either-Ors'. A alternativa seria perspectivar as coisas em termos de 'both-and'. Digo isto porque acho que simplicidade não tem que ser o oposto de complexidade, de densidade, de sofisticação, refinamento. Da mesma forma que os substantivos que formulei não têm de ser ligados a elitismo e outros -ismos afins. Penso isso em relação a muitas pessoas que considero simples e densas. Às vezes, bom-gosto depurado é visto como futilidade. Futilidade é pensar acriticamente e isso não tem nada a ver com vibrar com... Enfim, é tarde, estou exausto, hoje. Mas qd venho aqui, encontro uma casa do diospireiro formulada em termos de both...and e é por isso que sabe bem passar por aqui. É autêntico e não ontologicamente correcto. Enfim... bom fim-de-semana e desculpem a tirada deweyiana... Mas foi o que me ocorreu quando li o teu texto, espelho do teu dilema. Não há dilema, de facto. És tu, são vocês e isso vale muito mais do que pseudo-coerências em teoria.
cat:
a necessidade é sempre relativa. há pouco tempo aprendi o conceito de 'mal de quem tem'. acho que em algumas coisas, e por mais, que gostasse do contrário, acho que em algumas coisas sofrerei sempre dele. e oh, que os sapatos são mesmo giros. :)
baudolino:
cá por casa ficámos embevecidos com as tuas palavras e gostamos que te sintas bem 'cá em casa', que gostes do nosso both e and.
(que bom que voltaste a escrever, nós também nos sentimos lá). *
Enviar um comentário