Os defuntos andem aí

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Jens Lekman com ar de quem está calado

Who Robbed the Pantry?! A Meditation on Voltas, Laziness, and Indie Rock’s Complicated Sense of Humor

Li este texto há uns anos na defunta
Stylus Magazine, e devo ter-lhe achado alguma graça porque me lembrei de ir lê-lo outra vez. Deixo aqui uns excertos:

Aside from having essentially nothing to do with music, debating whether a band is serious (or not) foregrounds the slippery issue of intention. I don’t know my intentions half the time. Intention, so far as it’s relevant at all, reveals itself in action. Forgive the armchair philosophy, but making critical endorsement contingent upon whether or not a band is “serious” presumes a certain sixth sense—the ability to read minds. More importantly, it draws rigid borders around the listening experience by installing an incalculable essence (i.e. seriousness) as a core value.

Borders, if you haven't heard, facilitate lazy listening habits. The Serious Question helps its askers avoid lots of other, trickier questions—questions that cramp styles, throw wrenches, and generally make rocking out a more complicated endeavor. (...)

If you deny music’s capacity for humor, you might as well tell pain and sadness to fuck off, too. Why don’t you make a list? Top 10 Feelings It’s OK for Music to Express. Of course no one with half a brain would actually question music’s
right to be funny. But there’s more at stake still. I think music that lets in humor can achieve higher highs, bluer blues, and broader expressive extremes all around than music that doesn’t.

Sam Ubl


É a minha opinião (ou o meu gosto) sobre a música, se calhar sobre muitas coisas mais, mas tal como o Einstein tenho pouca vontade de generalizar uma grande descoberta (neste caso uma grande descoberta de outra pessoa). O humor na música faz-me falta, o humor em sentido lato, o humor como capacidade de não se levar a si próprio demasiado a sério, não necessariamente no sentido gargalhada. E paradoxalmente, ou não, faz-me falta sobretudo quando se trata de bluer blues:

I killed a party again
I ruined it for my friends
Well you're so silent, Jens
Well maybe I am, maybe I am

Black cab
, Jens Lekman

I used to be carried in the arms of cheerleaders


Mr. November
, The National

I was up all night again, boning up and reading the American dictionary
you'll never believe me what I found


Brainy
, The National

E com este poeta enchia páginas.



More importantly, it draws rigid borders around the listening experience by installing an incalculable essence (i.e. seriousness) as a core value.

Esta frase faz-me lembrar isto. E também me faz pensar nisso de, a propósito da música e a propósito de outras coisas, criarmos na nossa cabeça uma "essência" de fronteiras mais ou menos rígidas. Como fronteiras que são (mais Tijuana que Valença do Minho), contêm alguma coisa (pessoas "sérias" ou pessoas que fazem "verdadeira arte", por exemplo) e deixam alguma coisa de fora. Revejo essas fronteiras frequentemente, desloco-as de vez em quando, mudo o conteúdo. E se muitas vezes isso decorre de um esforço de pôr ordem nos meus pensamentos e de tentar perceber onde está o "bem" ou a "razão", não creio que o faça sempre da forma mais desinteressada (nem podia) e tolerante. Às vezes é mesmo preguiça, como tentar que novas experiências não alterem preconceitos antigos e não me obriguem a pensar, outras vezes será porventura algo pior. A verdade com "V" é uma coisa estranha e que serve de instrumento de exclusão com a maior das facilidades (a verdade do Evangelho é inclusiva, mas é outro tipo de verdade, não é a verdade dos factos mas também não pretende ser, nem é preconceito mascarado de autoridade moral). Os bons e os maus só são fáceis de distinguir nos filme de cowboys e no MacGyver, e todos os maiores de sete sabem que tanto uns como o outro são um pouco irrealistas.
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1 comentário:

Anónimo disse...

O Senhor P. está um verdadeiro filósofo da música, do desporto, da vida! Longe vão os tempos da (falta de?) Lógica da filosofia do secundário.
As fronteiras. A verdade do Evangelho é a do testemunho da vida de Jesus, a da interpelação directa ao coração de cada um, a de um apelo de que ninguém é proprietário, a da tensão de um mistério que rodeia o sentido da vida, do sofrimento, da alegria e da dor, da morte...

A propósito: as partículas, quando chocam à velocidade da luz, produzem som, ou melhor, por aí tenta-se e consegue-se captar o som que produzem? (por esta pergunta, está identificado o anónimo...)
José M.