Arrested development


Magia:



Uma das coisas que mais me confusão me faz, mais do que a insistência dos jornalistas em pôr estes tipos a falar sobre a Coreia do Norte, Cuba ou o Gulag, é o facto de eles meterem sempre (que eu saiba e me lembre) a pata na poça quando isso acontece. Sempre supus que estas questões fossem vistas por eles como uma espécie de armadilha (embora não percebesse porquê, afinal não me lembro de alguém estranhar o facto de o Guterres fazer diferente do Blair ou o Barroso do Chirac), na qual não cairiam se evitassem menorizar as barbáries e negar o evidente ao mesmo tempo que protegiam a pureza do ideal ou a viabilidade do programa próprio, ou seja, uma armadilha na qual caiam por serem trengos, impreparados, e por terem demasiado medo de ofender o manifesto (ou estatutos, ou o que for), e não necessariamente por serem dados ao totalitarismo, nem sequer ao autoritarismo.
São os comunistas quem dá de comer ao papão do comunismo, o que é intrigante.

Hoje acho que percebo, pelo menos em parte, porque razão caem na armadilha. O problema não está, como eu achava, na ortodoxia a mais ou no jeito a menos, mas na estranha relação entre esta malta e a democracia. Quando o candidato a presidente diz que o projecto do PC é diferente do projecto da Coreia do Norte, embora o PC respeite as "opções de cada povo", deixa à vista de todos que nem sequer se apercebe que, para a maior parte das pessoas, o problema de base do projecto coreano é a opção do povo.



Quando o secretário-geral fala em manter escutas (aliás, "provas") para processos futuros
, mostra o que quer da justiça.

E quando o director do Público disse que os serviços de informação andaram a vasculhar os emails trocados entre jornalistas do Público que revelavam as vigarices do PR e os passaram ao DN, a maior parte das pessoas deve ter pensado: hmmm, serviços de informação, que rebuscado, quem mais poderia ter sido? Mas o secretário-geral nem pensou duas vezes:

“Num quadro eleitoral de vez em quando lá se solta uma informação onde se nota que o maior perigo é a governamentalização desses serviços de informação, que, conforme se está no poder, se usa por conveniência própria”

Alguns ataques, sobretudo os processos de intenção, dizem muito de quem os faz e pouco ou nada dos visados. Ate há pouco tempo sempre tive alguma simpatia pelo PC (que nunca tive pelo BE), apesar de poucas vezes concordar com o que diziam e de me aborrecerem. Hoje até estou mais à esquerda, mas essa simpatia desapareceu porque percebi que, espantosamente, os tipos (pelo menos quem manda) não se demarcam de certas merdas porque não vêem o que as separa daquilo que gostariam de fazer, ou ser (admitindo que existe uma separação). Não temem a analogia, apenas disfarçam, e mal, que se identificam. Identificam-se, suponho, porque o vermelho é vermelho, mas isto não é o Benfica.

Se a esquerda da esquerda não é democrata, a democracia anda para a direita e o governo nao tem outra opção que não negociar ou tentar negociar o orçamento com os tipos das razões (legalmente) atendíveis (ou no limite com os tipos que querem pôr os beneficiários do RSI a limpar as matas de todos), em vez de negociar com os tipos que até o podiam forçar a aumentar o IRS de uma forma que acentuasse mais a progressividade da taxa, e outras coisas que tais, em troca do sacrificar de qualquer coisa que ainda não percebi bem o que é (o título de maiores detestadores do PS?). Mal por mal ao menos o povo opta mesmo de quatro em quatro anos.

E agora vem a propósito uma coisa que não me deixam encamar.

A espectacularidade de tudo isto que a administração do futebol clube do comunismo português diz depende da circunstância deste clube dispôr de 13 deputados. Não são duas espectacularidades complementares ou siamesas mas sim a mesma espectacularidade circular. Na verdade, acho que pelo menos neste caso perceber em parte é não perceber nada, e no fundo isto só é interessante para mim porque não percebo nada. Afinal, esta forma peculiar de ver a democracia e a política não deveria ser impedimento a que se respondesse que uma coisa é o totalitarismo e outra é o comunismo, que o que outros fazem nos não faríamos, ou qualquer coisa do género, em vez de relativizar tudo e mais alguma coisa (há de haver bufos, bombistas, malucos e tiranos em tudo o que é partido que fazem o mínimo para conseguir disfarçar as suas pancas, e assim é que é saudável, não é ao contrário, parece-me). Os tipos que dizem sempre a mesma coisa são os mais difíceis de perceber. Talvez isto não fosse tão misterioso para mim se lesse mais. E assim viveria entretido apenas com mistérios bons, como o vôo da águia Vitória, o rácio entre as quantidades de minutos de jogo do Djaló e do Vukcevic e coisas dessas.



"where's freud when you need him?"


i'll try anything once



because you only live once.




10 decisions shape your life,
you'll be aware of 5 about,
7 ways to go through school,
either you're noticed or left out,
7 ways to get ahead,
7 reasons to drop out

20.34 na biblioteca. ouço esta música repetidamente. se a tese pudesse ter melodia... seria esta.

tudo o que queres, consegues.
sim.




The Marvelettes
:




The Velvelettes:




The Ronettes
:




Les Horribles Cernettes:



para dondoca,
x & p

"Foram juntos outro dia, como por magia, no autocarro, em pé"*


Filipe IV, por Diego Velázquez

Depois de ter ouvido cada uma destas duas canções youtubadas aqui em baixo tótil vezes, acho que sei porque razão são daquelas canções que me fazem desejar que o autocarro ande mais devagar - para que não chegue a paragem em que saio - para que nem a tarefa mais simples (como levantar o cagueiro do banco ou desviar os olhos da janela) não roube algumas ppm dos meus neurónios - para que estes se ocupem em grande número cruzando ondas sonoras com memórias ou desejos ou coisas do subconsciente de forma a obter uma agradável resultante de contemplação e emoção (não sei se é assim que estas coisas funcionam). Em ambos os casos, é a voz que carrega a melodia, por isso, e porque não sou novo nestas andanças de gostar muito de ouvir canções, foi fácil concluir que o mistério está também ou sobretudo nas palavras (não está sempre, até gosto de uma música cujo refrão começa por "go downtown put the drugs in my body").



I never knew I was a lover,
Just cause I steal the things you hide,
Just cause I focus while we're dancing,
Just cause I offered you a ride.

King of Spain,
The Tallest Man on Earth

Nesta aqui, as palavras ambíguas informam-nos de que o pretendente ao trono não se quer libertar de coisa nenhuma, e que o aparente sarcasmo do refrão (uma espécie de se consegues fazer x eu sou o Papa) não passa de bluff (se fosse sarcasmo para quê fantasiar?). Quando canta I never knew I was a lover, o homem não está a ser sarcástico porque, logo a seguir, canta just cause I focus while we're dancing, e deixa claro que as palavras que se seguem são sobre o que sabe agora e não sobre o que não sabia, o que pode ser o mesmo mas não é as mesma coisa (não falamos de funções de estado). Isto são os meus ouvidos, concedo, e para os meus ouvidos a outra grande canção deste cantautor (quem inventou esta palavra divertia-se) é uma que descreve homicídios cometidos so I could stay the king you see, e que acaba com now we're dancing through the garden, talvez onde começa a do rei de Espanha.



Seis da tarde
Como era de se esperar
Ela pega
E me espera no portão
Diz que está muito louca
Prá beijar
E me beija com a boca
De paixão...

Cotidiano,
Chico Buarque


E nesta aqui o narrador descreve um cotidiano de beijos pontuais e apavorados, tão importante e absorvente que o faz maldizer a
vida prá levar. É fixe que palavras aparentemente tão prosaicas, e como que resignadas, sejam tão doces.

*